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‘a’ causa e ‘a’ objeto do desejo
não cremos no objeto, mas constatamos
o desejo e dessa constatação do desejo
induzimos a causa como objetivada.
(Lacan, Sinthoma, p. 37)
O objeto, escrito ‘a’ por Lacan, não tem imagem especular, é um
objeto que na imagem aparece como falta. O estatuto desse objeto é dado
pelo objeto da angustia que se defi ne pelo não é sem. É um objeto que
porta uma ambiguidade: de um lado tem como referência os pedacinhos
identifi cados como partes do próprio corpo e de outro se localiza no campo
do Outro. Neste campo, ele é o resto que surge ao se estabelecer o limite
que funda o sujeito.
Em 1972, Lacan destaca o ‘a’ da palavra amour, colocando em
evidencia o mur – entre o homem e o mundo há um mur (muro). O muro é
o lugar da castração. A carta de a-mur evidencia a estrutura da linguagem
a partir da castração: “Peço-te que me recuses o que te ofereço, porque
não é isso”. O ‘não é isso’ está na causa da demanda, do oferecimento e
da recusa, enodados borromeanamente.
Porém, nos alerta Lacan, o muro (mur) pode também servir de
espelho (murroir).
Seguindo este traçado, nos detemos no cinema surrealista de Buñuel
com o fi lme que tem um instigante título: Esse obscuro objeto do desejo.
Como em uma carta de a-mur, o fi lme mostra o objeto que recusado se
eleva a um objeto obsessivamente desejado. Diz a personagem feminina:
O que você quer e eu recuso, na verdade não sou eu....”
Bibliografi a:
LACAN, J. O desejo e sua interpretação - cap. XVII O objeto Ofélia
________ ...ou pior - cap. VI.
________ “A terceira” - Documentos para uma Escola VI.
________ Seminário 16 - cap. III e IV.
Filme Buñuel - Esse obscuro objeto do desejo.
Arlete Garcia
Início: 30 de março.
Quartas-feiras às 9h (quinzenal)
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