Page 39 - Boletim_2022_site.indd
P. 39

Aspectos do mal-estar na contemporaneidade:
                      Que lugar para a, causa de desejo?


                                         N ã o   e x i s t e   o u t r o   m a l - e s t a r   n a
                                         civilização  senão  o  mal-estar  do  desejo.
                                                             Lacan, J. 1959/2016
                                         [...] a obra do psicanalista talvez seja a mais
                                         elevada  [...]  Que  antes  renuncie  a  isso,
                                         portanto,  quem  não  conseguir  alcançar  em
                                         seu horizonte a subjetividade de sua época.
                                                            Lacan, J. 1953/1998.

                  Em  1930  Freud  publica  em  “O  mal-estar  na  civilização“  sua
            leitura sobre as dores e as delícias do pacto simbólico entre falantes. O
            título aponta um efeito inevitável, próprio ao avanço cultural, referido ao
            sentimento de culpa decorrente do incremento de exigências do supereu.
                  Lacan remete o mal-estar ao desejo, correlacionado à angústia. Desdobra
            a tríade freudiana “inibição, sintoma, angústia” introduzindo  a emergência do
            impedimento, do embaraço, da emoção, da efusão, do acting out e da passagem
            ao ato. Entre o sentimento de culpa freudiano e a angústia lacaniana, de que
            maneira a clínica atual tem-nos trazido o mal-estar na civilização?
                  Embora Lacan já tivesse detectado o declínio das imagos paternas,
            seu ensino se iniciou nos anos ’50 com uma proposta de retorno a Freud, de
            relativa valorização do registro simbólico. Do inconsciente estruturado como
            uma linguagem, da ética da psicanálise, do objeto a, causa de desejo, Lacan
            chega ao ato analítico e à teoria dos discursos nos quais prevaleciam, todavia, o
            real como impossível, o Nome-do-Pai como signifi cante-mestre e a lógica fálica.
                  Mas o movimento da civilização levou Lacan, em resposta a seu
            tempo, a pluralizar o Nome-do-Pai, a formular o gozo não-todo, a escrever,
            ademais,  o  discurso  do  capitalista.  São  formulações  com  as  quais  a
            psicanálise pode abordar questões atualmente em relevo na cena social e
            subjetiva: a indiferenciação sexual, a inteligência artifi cial, além de expressões
            múltiplas de violência (racismo, machismo, segregação, feminicídio, etc.).
                  Neste ano, percorreremos algumas dessas noções lacanianas para
            pensar a implicação da psicanálise na contemporaneidade.

            Claudia de Moraes Rego
            Olga Soubbotnik
            Teresa da Costa

            Início: 12 de março.
            Sábados às 14h (quinzenal / online)


                                                                       39
   34   35   36   37   38   39   40   41   42   43   44