Page 36 - Boletim 2024 - ELF
P. 36

Aproximações ao real do sexo


                                         [...] no  caso dos seres humanos não achamos
                                         uma  virilidade  ou  feminilidade  puras  no
                                         sentido psicológico nem no sentido biológico .
                                                  Freud. "Três ensaios de teoria sexual"
                                         ... o signifi cante não é apropriado para dar corpo a
                                         uma fórmula que seja da relação (rapport) sexual.
                                         Daí minha enunciação: não há relação (rapport)
                                         sexual – subentenda-se: formulável na estrutura
                                                             Lacan. "Radiofonia"
                  Apesar de sua conhecida paráfrase do dito napoleônico “a anatomia
            é o destino”, Freud afi rma que a psicanálise deveria se manter distante de
            explicações originadas na anatomia, na química ou na fi siologia. A anatomia,
            nessa perspectiva, não apreende o que caracterizaria a masculinidade ou a
            feminilidade. Ao enunciar que a libido é de natureza masculina, referência
            tanto para homens como mulheres – independente da escolha objetal –
            subverte o pensamento tradicional sobre o que é a diferença sexual. Se a
            famosa “inveja do pênis” pôde ser formulada, ela não deve ser lida sem a
            referência ao falo, o qual não é propriedade de nenhum ser falante sexuado.
            A  sexualidade feminina foi deixada por Freud como uma questão em aberto.
                  Lacan, no início do seu ensino, já alertava que os signifi cantes
            “homem” e “mulher” não equivaleriam a modelos de atividade/passividade.
            O homem, uma mulher, são apenas signifi cantes e o signifi cante não toca
            o que seria uma “essência” do sexo que ele adverte faltar. No inconsciente,
            o homem nada sabe da mulher e, se a função da linguagem opera, ela, por
            sua vez, não constitui um segundo sexo: teremos um sexo e Outro sexo.
                  Dando continuidade ao percurso iniciado em 2023, destacaremos
            o que é da escrita e prática de leitura, leitura que é “para além do que
            vocês incitam o sujeito a dizer” na experiência analítica. A leitura, assim
            como a escrita, orientam para uma prática na qual “a letra, radicalmente, é
            efeito de discurso”. Quais seriam os limites dessa escrita, já que “a relação
            sexual não pode se escrever”? Ao cifrar o gozo, tangenciando o que “não
            para de não se escrever”, o dizer – que é da ordem de um ato – passaria
            à escrita? “O sexo é um dizer” implicaria essa escrita?


            Francisco José Bezerra Santos
            Início: 5 de março.
            Fortaleza/CE - Terças-feiras às 20h (semanal)



             34
   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41