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Lacan... na série


                  Neste ano de 2024, em que a Escola continuará abordando a
            questão O sexo é um dizer, o “Lacan... na série” vai trabalhar os seminários
            A ética da psicanálise (1959-1960) e  De um Outro ao outro (1968-1969).
                  No seminá rio sobre a é tica da psicaná ise, Lacan parte do Entwurf de
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            Freud. Na leitura que propõe desse Projeto freudiano, Das Ding é situada
            topologicamente como centro e í ndice de exterioridade a um só  tempo, falta
            central no registro do desejo, real inacessí vel que é  condiç ã o pró pria da
            linguagem. A Coisa como pivô  constitui um problema necessá rio para avanç ar
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            na direç ã o do trabalho em torno da é tica própria à psicaná ise. Em um percurso
            que vai do grito à  experiê ncia de satisfaç ã o, passando pelo encontro com a
            opacidade na constituiç ã o do Outro, Lacan conduz a um desfi ladeiro “nessa
            passagem estreita em que o pró prio Freud se deté m” (p. 236), chegando ao
            mandamento que lhe parece desumano: “Amará s a teu pró ximo como a ti

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            mesmo”. Passando por Aristó eles e Kant, recorre também à Antí gona, tratando
            pela via da tragédia a articulação entre o bem, o belo e o desejo puro. Da ética
            do desejo à é tica da contingê ncia, Lacan prossegue até  a formulaç ã o de uma
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            é tica da psicaná ise, fundamentada no real.
                  Em De um Outro ao outro Lacan enuncia pela primeira vez o aforismo
            que escreve o real do sexo: “não há relação sexual”. Esse aforismo  articula
            a lógica freudiana que parte de uma falta original, a castração. Nada se
            articula sem ela, nem do lado do homem, nem do lado da mulher. “Conviria,
            por exemplo, não confundir o que acontece com a relação [rapport], tomando
            esse termo no sentido lógico, com a relação que fundamenta a função conjunta
            dos dois sexos. Parece evidente que existem apenas dois deles, mas, por
            que não haveria três ou mais?” (p. 216). O passo de Freud foi escutar o real
            do sexo denegado pelos discursos que o precederam. Com a articulação dos
            discursos em plena elaboração neste seminário, Lacan verifi ca e formaliza
            a lógica freudiana. O discurso do analista franqueia a bordagem possível de
            escrever o impossível, a partir da aposta no sexo como um dizer.
            Ana Lucia Zacharias
            Benita Losada A. Lopes
            Bruno Netto dos Reys

            O seminário, livro 7 – A ética da psicanálise
            Início: 15 de agosto.
            Deborah Tenenbaum, Evelyn Disitzer, Mônica Coutinho e Tatiana Porto
            Campos
            O seminário, livro 16 – De um Outro ao outro
            Início: 04 de abril.
            Bruno Netto dos Reys, Claudia Mayrink e Nestor Torralbas
            Quintas-feiras às 19h (semanal)
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