Page 7 - Boletim 2023 - Escola Letra Freudiana
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ponto real a partir do qual se organiza e se situa o que é do âmbito do
            sexual para o ser falante, ou seja: não há relação sexual.
                  A identidade não é sufi ciente para servir de ancoradouro ao ser
            falante, porque se passa num registro que só comporta a existência do
            outro semelhante. A presença do ser falante no mundo está ancorada na
            existência do Outro enquanto lugar do signifi cante. Isso nos leva ao fato
            de que, para o sujeito que interessa à psicanálise, trata-se de identifi cação
            e não de identidade. A identifi cação está correlacionada ao registro do
            signifi cante.
                  Quanto ao que seria a identifi cação sexual para o parlêtre, Lacan
            indica que no psiquismo não há nada pelo que o sujeito pudesse se situar
            como ser macho ou ser fêmea. A sexualidade se instaura no campo do
            sujeito por uma via que é a da falta.
                  No Seminário Encore, onde se elaboram as ditas ‘fórmulas da
            sexuação’ — que poderíamos tratar como uma tentativa de estabelecer
            uma lógica de duas modalidades de gozo sexual, no lugar das clássicas
            oposições:  “homem-mulher”,  “masculino-feminino”,  “ativo-passivo”
            —, Lacan refere-se ao seu texto L’Étourdit e diz que este escrito parte da
            distância que há entre o dizer e o dito. E continua: “que só haja ser no
            dito, isto é uma questão que deixaremos em suspenso. É certo que só há
            dito do ser, mas isso não impõe a recíproca. Por outro lado, meu dizer é
            que só há inconsciente do dito — isso é um dizer. Como dizer? Aí está a
            questão: não se pode dizer de qualquer maneira, esse é o problema de
            quem habita a linguagem, ou seja, o de todos nós” (Encore, p.197).
                  O aforisma lacaniano “não há relação sexual”, contrariamente ao
            que se poderia supor à primeira vista, é exatamente o que possibilita — e
            ao mesmo tempo complica — o encontro sexual e as ligações amorosas.
            Encontro sexual esse que implica a pergunta sobre o gozo e está ancorado
            no fantasma.
                  Não há signifi cante que designe o sexo. Essa falta radical do Outro
            retorna ao ser falante como um enigma a decifrar – vide as teorias sexuais
            construídas por Freud a partir de sua experiência como analista. É preciso
            ainda enunciar que no trabalho de análise o sujeito é confrontado à falta
            radical na sua posição de ser falante ao dizer o sexo.
                  “O sexo, eu já disse, é um dizer, isso vale o que vale, o sexo não
            defi ne uma relação. É o que eu enunciei formulando que não há relação
            sexual.” (Lacan, Seminário O momento de concluir).





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