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O sexo é um dizer


                  Após cerca de um ano de trabalho da Escola em torno da questão
            ‘o sexo é um dizer’, aforismo lacaniano formulado num tempo fi nal de
            seu ensino, avançamos um pouco nessa proposta e nos deparamos com
            vários desdobramentos e interrogações que nos fi zeram supor, não só
            que a questão nos interpela encore, mas que não encontramos um melhor
            modo de dizê-la.
                  “Que se diga fi ca esquecido por trás do que se diz no que se ouve”
            ("O aturdito", p.448). Seria preciso então perseverar, insistir um pouco mais
            nesse dizer para que não caia no esquecimento, fato de estrutura. Dizer
            este que aponta ao “não há relação sexual”, à impossibilidade de dizer a
            relação sexual, saber no lugar da verdade no discurso analítico. E que é
            sustentado pelo semblante de a causa do desejo para o sujeito em análise.
                  Lembremos que a leitura do seminário Encore em nosso Espaço de
            Trabalho nos trouxe a enigmática frase: “o gozo do Outro, do corpo do Outro
            que O simboliza, não é o signo do amor”. O amor demanda o amor, não
            cessa de demandá-lo, e de demandá-lo sempre mais” (cf. Encore, p.16).
            Quanto ao gozo do Outro, este encontrará sua localização topológica no
            nó borromeano que Lacan irá apresentar em 1974 na "Terceira", em que
            esse gozo do Outro aparece disjunto do gozo fálico e do sentido. O que é
            situado no ponto de trava central do nó borromeano, nessa ocasião, é o
            objeto a defi nindo o lugar do mais-de-gozar ao qual se conecta todo gozo.
            O que nos permite concluir que o campo do gozo não é outro senão o da
            perda encarnada no objeto a.
                  Se Lacan recorre aos termos ‘dizer’ e ‘dito’ nos anos 70, cabe
            apontar que isso só é possível após sua formulação sobre os dis-cursos.
            E indicar novamente que só há inconsciente do dito, e que só há dito do
            ser. Portanto, o que se formula é que o dizer ex-iste ao dito. E quanto ao
            ‘ser’ e mais especifi camente o ‘ser sexuado’?
                  Sobre esse ponto, no seminário Les non-dupes errent, Lacan afi rma:
                  “O ser sexuado não se autoriza senão dele mesmo [que de lui
            même]. É nesse sentido que ele tem a escolha, quero dizer que isto a que
            a gente se limita para classifi cá-los macho ou feminino no registro civil, isso
            não impede que ele tenha  escolha. Isso, é claro, todo o mundo o sabe, ele
            não se autoriza senão dele mesmo... e por alguns outros” (lição 09/04/74).



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