Page 35 - Boletim 2023 - Escola Letra Freudiana
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Aproximações ao real do sexo
[...] no caso dos seres humanos não achamos
uma virilidade ou feminilidade puras no
sentido psicológico nem no sentido biológico .
Freud. "Três ensaios de teoria sexual"
... o signifi cante não é apropriado para dar corpo a
uma fórmula que seja da relação (rapport) sexual.
Daí minha enunciação: não há relação (rapport)
sexual – subentenda-se: formulável na estrutura
Lacan. "Radiofonia"
Apesar de sua conhecida paráfrase do dito napoleônico “a anatomia
é o destino”, Freud afi rma que a psicanálise deveria se manter distante de
explicações originadas na anatomia, na química ou na fi siologia. A anatomia,
nessa perspectiva, não apreende o que caracterizaria a masculinidade ou a
feminilidade. Ao enunciar que a libido é de natureza masculina, referência
tanto para homens como mulheres – independente da escolha objetal –
subverte o pensamento tradicional sobre o que é a diferença sexual. Se a
famosa “inveja do pênis” pôde ser formulada, ela não deve ser lida sem a
referência ao falo, o qual não é propriedade de nenhum ser falante sexuado.
A sexualidade feminina foi deixada por Freud como uma questão em aberto.
Lacan, no início do seu ensino, já alertava que os signifi cantes
“homem” e “mulher” não equivaleriam a modelos de atividade/passividade.
O homem, uma mulher, são apenas signifi cantes e o signifi cante não toca
o que seria uma “essência” do sexo que ele adverte faltar. No inconsciente,
o homem nada sabe da mulher e, se a função da linguagem opera, ela, por
sua vez, não constitui um segundo sexo: teremos um sexo e Outro sexo.
Na direção do que é da escrita no discurso analítico, interessa uma
prática de leitura, leitura que é “para além do que vocês incitam o sujeito a
dizer”. Esta dimensão da leitura, assim como da escrita, orientam para uma
prática na qual “a letra, radicalmente, é efeito de discurso”. Quais seriam
os limites dessa escrita, já que “a relação sexual não pode se escrever”?
O que do dizer poderia passar à escrita e, nesta, se cifraria mais além do
gozo regido pelo falo, tangenciando o que “não pára de não se escrever”?
São estas algumas das questões a orientarem o trabalho neste ano.
Francisco José Bezerra Santos
Início: 4 de abril.
Terças-feiras às 20h (semanal)
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