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O poder dos impossíveis: Marx, Freud, Lacan1

Noêmia Santos Crespo 2

Não haveria discurso analítico nem revelação da função do objeto a, se o próprio analista não fosse o efeito, ou, eu diria mais, o sintoma que resulta de uma certa incidência na história, que implica a transformação da relação do saber, como determinante para a posição do sujeito, com o fundo enigmático do gozo.1

Lacan nos levou a interrogar o modo como se insere o desejo do psicanalista no seu contexto histórico. Revisamos a análise realizada por Marx do modo de produção capitalista, investigando a relação entre os conceitos de mais-valia e mais-de-gozar; em seguida, procuramos rastrear a transformação na relação do saber com o gozo, ocorrida na civilização contemporânea, que teria convocado o advento da psicanálise.

No entender de Marx, a grande transformação promovida pelo capitalismo ocorreu no campo da economia: desencadeou-se um processo aparentemente ilimitado, e cada vez mais rápido, de acumulação de riqueza abstrata, alavancado pela dinâmica do mercado – em particular, do mercado de trabalho. Mas essa virada não teria sido possível sem uma transformação correlata no campo do saber, com o nascimento da ciência moderna: a partir daí, o saber também se tornou expansionário, permitindo um processo de revolução permanente no domínio dos meios de produção.

“Não foi o capitalismo que inventou o trabalho excedente”,2 nem a apropriação de seus frutos por uma classe dominante, escreveu Marx. Nas economias caracterizadas pela escravidão e servidão, os senhores impunham trabalho excedente às classes dominadas; usurpavam o produto desse trabalho.  Mas, ainda que cada geração de amos procurasse superar a anterior no consumo suntuário, a tradição e o costume impunham barreiras à expansão de riqueza – tanto do lado das técnicas produtivas, quanto do lado da demanda. Não se cogitava diversificar os produtos, ou incrementar a produtividade nos campos e oficinas. Aliás, trabalho e produção não eram considerados assuntos dignos do interesse de um senhor.

Tudo muda quando o objetivo do processo de produção deixa de ser o atendimento a demandas pré-definidas – a produção de valores de uso, triviais ou luxuosos – e se transforma na meta generalizada de produzir valores de troca. Do lado dos capitalistas, instaura-se uma competição darwiniana: quem produz mais e melhor, mais barato e mais rápido, desde que consiga vender o que produz, devora os concorrentes.

Já os que não possuem meios de produção precisam vender, por “livre e espontânea vontade”, o único valor de troca que lhes resta – sua força de trabalho – para comprar meios de subsistência. Ora, o trabalho é a única mercadoria cujo valor de uso produz mais valor que seu valor de troca; a mais-valia é a cifra dessa diferença. Agora, no capitalismo, “Não se trata mais de obter certa quantidade de produtos úteis; o objetivo passa a ser a produção da própria mais-valia”,3 enfatiza Marx. “A circulação de dinheiro como capital […] tem sua finalidade em si mesma, pois a expansão do valor só existe nesse movimento continuamente renovado. Por isso, o movimento do capital não tem limites”.4 Ou, de uma perspectiva lacaniana:

a mais-valia é a causa do desejo do qual uma economia faz o seu princípio: o da produção extensiva, e por conseguinte insaciável, da falta-de-gozar. De um lado se acumula para acrescentar os meios desta produção, a título de capital. De outro lado, estende o consumo, sem o qual esta produção seria vã, justamente por sua inépcia para fornecer um gozo com o qual pudesse desacelerar-se.5

No Seminário 17, Lacan fala de uma “curiosa copulação” do discurso da ciência com o discurso do mestre no capitalismo. Segue claramente as pegadas de Marx, para quem “a indústria moderna […] faz da ciência uma força produtiva independente do trabalho, recrutando-a para servir ao capital”.6 Revolucionando continuamente o processo produtivo, a ciência contribui para aumentar as taxas de mais-valia relativa; desenvolvendo novas técnicas e novos produtos, cria, modela e acirra a demanda.

O discurso do capitalista é uma mutação do discurso do mestre. Nele, o sujeito assume lugar de agente; mas, “na volta do barco”, é tomado crescentemente como objeto de saber e poder. Retificado e turbinado, deve produzir, de um lado; demandar e consumir, de outro lado, o que dele se espera. Ao promover a expansão contínua de riqueza abstrata, o capitalismo fomenta, correlatamente, expansão e manipulação do que Lacan conceituou em termos de falta de gozar.

Na sociedade de mercado absolutizado, vigora o que Marx denominou fetichismo da mercadoria: relações entre pessoas assumem a forma fantasmagórica de relações entre coisas. Mercados, ativos, bolsas, etc., parecem ter vida própria. Algo fica sistematicamente velado nesse jargão da economia capitalista. O antigo senhor de escravos e de servos tinha nome e endereço; agora, o mestre já não tem identidade.7 Trata-se do Capital, simplesmente, de quem todos – empresários e assalariados – são serviçais compulsórios

Na atualidade, “Há apenas um sintoma social: cada indivíduo é realmente um proletário”,8 escreveu Lacan. Quando Marx esboçou O Capital – fins do século XIX – ainda havia uma clivagem clara entre burguesia e proletariado. Hoje, assalariados se tornam acionistas de empresas, via fundos de pensão, por exemplo – interessados, como todo capitalista, em incrementar suas taxas de lucro... Para Marx, “O Capital é um vampiro que se alimenta de trabalho morto, e quanto mais absorve, mais forte se torna”.9 Tão forte, acrescentaríamos, a ponto de seduzir aqueles que vampiriza, com seu messianismo do progresso – ao qual, aliás, o próprio Marx teria sucumbido, sugere Lacan.10

Um fetichismo análogo ao da mercadoria passou a vigorar também no campo do saber. A ciência que alavanca o capitalismo, e que dele se alimenta, é aquela onde a verdade como causa está foracluída – e o sujeito, suturado, ensina Lacan.11 O discurso científico é impessoal por definição. Fascina com sua vocação prometeica, transgressora de barreiras; e ainda aparenta ampliar-se ao infinito, acoplado ao Capital – como se tivesse o diabo no corpo.

Aqui, também, parece haver progresso, e cada vez mais rápido; tornamo-nos “deuses de prótese”,12 disse Freud. Isso gera euforia generalizada. O único problema é que tal progresso retorna como onipotência, não dos sujeitos, mas do Outro, lugar onde se instala sua (nossa) demanda.13 Afastados os tabus e tradições de outras eras, o que poderia deter a dominação dos sujeitos, sua redução a objetos aparentemente indistinguíveis dos demais: manipuláveis, consumíveis e descartáveis?

Marx divisou um ponto de impossível no limite da série da acumulação capitalista. Anunciou que o sistema estava fadado a sucumbir, devido a suas contradições internas. Impossível promover expansão infinita de riqueza, acumulação infinita de mais-valia, em condições de apropriação privada; isso tenderia a colapsar a própria produção, via estrangulamento da demanda. “Après moi le déluge! É a divisa de todo capitalista e toda nação capitalista”,14 escreveu Marx. “Isso se consome tão bem que isso se consuma”,15 confirmou Lacan.

Crises sucessivas, concentração de riqueza, devastação social – e agora, também, devastação ambiental – parecem confirmar amplamente a previsão de Marx; hoje, cento e quarenta anos depois da publicação de O Capital, muitas de suas passagens parecem mais atuais do que nunca.

Marx, no entanto, também advertiu: o capitalismo só entraria em colapso terminal, e só se tornaria outro que ele mesmo, desde que fosse ele mesmo... pelo tempo necessário para amadurecer suas contradições internas. Antes disso, toda crise que não o destruísse contribuiria para fortalecê-lo – coisa que os revolucionários do século XX descobriram amargamente, ao fazer da superação do capitalismo uma aposta que logo se revelou prematura.

Quanto à psicanálise, resta a determinar de que maneira seu discurso responde ao mal-estar da civilização contemporânea – e a responsabilidade que aí nos concerne. Freud deu um importante passo inaugural. Anunciou uma boa-nova desconcertante: localizou um ponto de impossível no que denominava economia psíquica. Afirmou que nenhum progresso tecnocientífico, nenhuma revolução ou reforma, nenhuma ideologia seria capaz de fazer o homem feliz. A diferença entre satisfação obtida e esperada seria irredutível, pois estaria ancorada no recalque originário. Lacan ratificou e refinou essas proposições freudianas. Postulou que a falta de que se alimenta o desejo decorre da lógica do significante, sendo “realmente” irredutível.

Se, para Marx, não foi o capitalismo que inventou o trabalho excedente, para Lacan, não foi o capitalismo que inventou a falta, nem o movimento de recuperação do mais-de-gozar. Tudo isso resulta do fato de falarmos: “ O que vem no lugar da mais-valia, e que eu chamei de mais-de-gozar, é uma função muito mais radical do que a da mais-valia no discurso capitalista. É uma função de fundamento, ligada à dependência do homem com relação à linguagem”16. É o significante como tal que causa o gozo; mas é também o significante que faz barreira ao gozo, introduzindo a dimensão da perda, ou da “e[a]ntropia”.17 Estes dois efeitos – produção do gozo, de um lado; barreira e perda impostas ao gozo, de outro lado – são teorizados por Lacan como avesso e direito aparentes de uma borda unilátera:

De fato, é apenas nesse efeito de entropia, nesse desperdiçamento, que o gozo se apresenta, adquire um status. Eis porque o introduzi de início com o termo Mehrlust, mais-de-gozar. É justamente por ser apreendido na dimensão da perda  –  alguma coisa é necessária para compensar, por assim dizer, aquilo que de início é número negativo – que esse não-sei-quê, que veio bater, ressoar nas paredes do sino, fez gozo, e gozo a repetir. Só a dimensão da entropia dá corpo ao seguinte – há um mais-de-gozar a recuperar.18

O capitalismo opera encobrindo, de forma particularmente astuciosa, esse efeito estrutural de perda, pela acumulação ilimitada de riqueza e informação. Quanto mais isso cresce, mais parece compensar com sobras a entropia do gozo, e aproximar-se de uma integral de felicidade e saber. É com essa miragem que o capitalismo produz a servidão consentida de que se alimenta, e o mal-estar da civilização contemporânea. Mas, na contramão desse movimento, Lacan reafirma a boa-nova freudiana. Anuncia que a totalização do saber e do gozo permanecem impossíveis, hoje, como sempre o foram:

Num outro registro, há o campo em que, aparentemente, o gozo espera o sujeito. É justamente aí que ele é servo […] dos meios de produção, isto é, daquilo com que se fabricam coisas que enganam o mais-de-gozar e que, longe de poderem ter a esperança de preencher o campo do gozo, nem sequer estão em condições de bastar ao que se perde, em função do Outro.19

O discurso capitalista opera em looping, deslizando infinitamente. Sua escrita, proposta por Lacan, arremeda o símbolo do infinito na matemática20. Embora não crie a falta que lastreia o desejo dos falantes, o capitalismo a aparelha; ele a induz ao engodo de se conceber como falta de expandir riqueza abstrata, acumular saber e/ou consumir. O ônus da contraprova é empurrado eternamente para adiante, para um horizonte sempre adiado, como numa série de Fibonacci: o rápido incremento dos termos da série fomenta a “esperança de preencher o campo do gozo”, e obscurece que não esteja sequer em “condições de bastar ao que se perde, em função do Outro”. Ora, diz Lacan, numa série de Fibonacci, “persiste o fato de que o que define a relação de cada um desses termos com o seguinte, isto é, sua verdadeira diferença, é sempre – até o fim e de um modo que não diminui, mas se mantém rigorosamente igual - a função a”, balanço da perda.21

Não há significante capaz de dizer a feminilidade, a sexualidade nem a morte, escreveu Lacan. Nada é tudo. Todo aparelho discursivo se confronta com o poder de um impossível, que não pode eliminar. Impossível governar, educar, seduzir, expandir valor e saber, ou mesmo psicanalizar, sem esbarrar em limites intransponíveis.22 O totalitarismo do Outro encontra seu limite no real, não no ideal. Às palavras de ordem “seja livre!” – que, aliás, encerram uma contradição interna –, o psicanalista contrapõe uma oferta: descubra de que tapeação você consente em ser o servo, ao preço desse gozo declinado em mal-estar.

O analisante vem doente do encontro com o real. Tem sorte, embora não se sinta propriamente abençoado. Inibição, sintoma, angústia, fizeram soar a hora da verdade: indicaram a desestabilização de uma ordem vigente. Uma economia de gozo tão opaca, ruinosa e coercitiva quanto o capitalismo subitamente entrou em crise; mostrou-se impossível de sustentar. Até então, tinha sido tolerável, confortável, excitante; agora, o déluge se anuncia.

“Minha vida ia mal fazia muitos anos; mas eu não queria mudar nada, não queria fazer nada diferente. Era para eu querer?”, pergunta em entrevista uma candidata a analisante, num tom de revolta.  

Lacan teve a insolência de proferir, certo dia, as seguintes palavras: “do modo como somos feitos, nós seres falantes, estragos é o que pode nos acontecer de melhor”.23 Como entender o que ele diz aí? Uma leitura possível seria: estragos nos obrigam a subjetivar nossa liberdade – nós que amamos tanto a servidão; nós que nada queremos saber da inconsistência do Outro a que nos alienamos, desafiamos e acusamos...

Confrontados ao real, ao poder dos impossíveis, somos forçados a levá-lo em conta. Isso nos impõe um prolongado trabalho de luto. Finalmente, conseguimos perder o que jamais tínhamos tido - mas sonhávamos reter, ou recuperar de alguma forma. Despertamos. Conseguimos nos perder como objetos do mais de gozar de um Outro inexistente. Conseguimos nos perder como servos dos meios de produção, dos fetiches que enganavam nosso mais-de-gozar. Despido de suas vestimentas fascinantes, o objeto do fantasma é esvaziado, restituído a sua “essência” de furo.

Estranhamente, porém, nem tudo é desolação no que daí resulta. Se não surgir também algum entusiasmo, escreveu Lacan, pode até ter havido análise; mas não terá surgido um analista...

Hoje, 2011, o capitalismo globalizado atravessa nova crise, de extensão e desdobramentos ainda imprevisíveis. Pelo mundo afora, os excluídos do sistema vão às ruas protestar, mostrando-se pouco resignados à condição de refugos. Ocupam até Wall Street... Alguns críticos desses movimentos acusam seus integrantes de sequer apresentar uma pauta definida de reivindicações. Outros os reputam de racaille. Outros os exortam a inventar o pós-capitalismo (como se isso pudesse ser feito a qualquer tempo, e por um ato de vontade...)

Os manifestantes, porém, exibem ao mundo – além de aflição e indignação – uma estranha alegria. Mostram uma supreendente capacidade criativa; produzem chistes verbais e visuais. Celebram a sua nudez; celebram a falta do Outro, que os convoca à invenção. “Sejam mais sérios, os carnavais são baratos”, censurou-lhes Slavoj Zizek24 – como se fosse barato descobrir que não se tem mais nada a perder.

Algo disso nos lembra o que disse Lacan, no Seminário 7, sobre o potlach – ritual com que povos ditos primitivos se purgavam dos seus bens, reavivando ciclicamente o prazer de desejar. Os bens, afinal, são cristalizações do saber e do poder do Outro, lugar onde a oferta “faz” a demanda. Sempre é possível perder de vista quem é o dono de quem - se não são os bens, ou os meios vigentes de produção de mais de gozar, que afinal nos escravizam, se nos deixamos iludir demais por eles.25

Num discurso proferido quando já sabia estar doente, com pouco tempo de vida, Steve Jobs – peça particularmente eficiente da máquina capitalista de acumulação de capital, tido como um gênio da civilização tecnológica – fez um interessante elogio dos estragos. Creditou aos reveses que o destino lhe impôs o poder de aliviá-lo do “peso de ser bem sucedido”, permitindo-lhe recuperar a “leveza da posição de iniciante”, “com menos certezas sobre tudo”. Fez um elogio da própria morte, anunciada no diagnóstico de câncer do pâncreas: “E eu nem sabia que tinha um pâncreas!...” “A morte é talvez a melhor invenção da vida”, disse ele. “Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu.”26

Como analistas, devemos nos lembrar de que a segunda morte, fantasiada por Sade, está ao alcance de todos nós; só que ela vem antes da primeira...

Diante do infinito nada, já escrevera Pascal, que é que realmente tem valor? No que devemos apostar?

Stay hungry, stay foolish”: é com essas palavras que Jobs conclui seu discurso. Descubra o que você ama – o amor se dirige à falta; não ceda da sua fome – isto é, de seu desejo; conserve a sua bobeira – isto é, seu não saber. Numa cultura que comanda a acumulação e a consumição, é um discurso sintomático; pode ser lido como uma afirmação do desejo indestrutível, para além dos fetiches (bens e saber) com que essa cultura tende a aliená-lo.   

Lacan atribuiu à psicanálise o valor de pulmão artificial capaz de arejar a atmosfera irrespirável da civilização contemporânea, dominada pelo discurso da Ciência.27 “Não faltar para com a falta”28, não faltar para com o real – essa é nossa tarefa, hoje mais necessária do que nunca.

Notas e Referências Bibliográficas

1 Publicado em Política e Psicanálise: efeitos d’Escola. Revista da Escola Letra Freudiana, nº 44.

2 Psicanalista, membro da Escola Letra Freudiana.

3. LACAN, J. O seminário, livro 16, De um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008, p. ??.

4. O capital é definido por Marx como “valor que se amplia, um monstro animado que começa a 'trabalhar', como se tivesse o diabo no corpo” (MARX, K. - O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p. 220).

5 MARX, K. O Capital.Op.cit., p. 226.

6 Ibidem, p. 171.

7 LACAN, J. Radiofonia y televisión. Barcelona: Ed. Anagrama, 1977, p. 59.

8 MARX, K. O Capital. Op. cit., p. 414.

9 “O que há de chocante (…) é que a partir daquele momento o significante-mestre, por terem sido dissipadas as nuvens da impotência, aparece como mais inatacável, justamente na sua impossibilidade. Onde está ele? Como nomeá-lo? Como discerni-lo, a não ser, evidentemente, por seus efeitos mortíferos?” – LACAN, J. O seminário, livro 17, O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992, p. 169.

10 LACAN, J. “La tercera”. In: Intervenciones y Textos, vol. II. Buenos Aires: Manantial, 1993, p. 102.

11 MARX, K. O Capital. Op. cit., p. 263.

12 “Para Marx, a mais-valia que sua tesoura restitui ao discurso do capital, ao destacá-la, é o preço a ser pago por negar, como eu, que algum discurso possa aplacar-se por uma metalinguagem (do formalismo hegeliano, no caso); mas esse preço, ele o pagou ao se adstringir a seguir o discurso ingênuo do capitalista em sua ascendência, e com a vida infernal que construiu para si” – LACAN, J. Radiofonia. Op. cit., p. 434.

13 “Ela [a lógica moderna] é, de modo inconteste, a consequência estritamente determinada de uma tentativa de suturar o sujeito da ciência, e o último teorema de Gödel mostra que ela fracassa nisso, o que equivale a dizer que o sujeito em questão continua a ser o correlato da ciência, mas um correlato antinômico, já que a ciência mostra-se definida pela impossibilidade do esforço de suturá-lo.” - LACAN, “A ciência e a verdade”. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 875. “(...) a prodigiosa fecundidade de nossa ciência deve ser interrogada em sua relação com o seguinte aspecto, no qual a ciência se sustentaria: que, da verdade como causa, ela não quer saber nada. Reconhece-se, aĩ, a formulação que dou da Verwerfung ou foraclusão” – ibidem, p. 889.

14 FREUD, S. “El malestar en la cultura”. In: Obras Completas, vol. III. Madri: Biblioteca Nueva, 1981.

15 Ver LACAN, J. “Subversão do sujeito e dialética do desejo”. In: Escritos. Op. cit., p. 828.

16 MARX, K. O capital. Op. cit., p. 307.

17 LACAN, J. “Du discours psychanalytique”. In: Lacan in Itália. Milão: La Salamandra, 1978, pp. 32-55.

18 ————“Sobre a experiência do Passe”. Documentos para uma escola II – Lacan e o Passe. Revista da Letra Freudiana no. 0’, 1995, p. 56.

19 “(...) no nível mais elementar, o da imposição do traço unário, o saber trabalhando produz, digamos, uma entropia. Isso aí se escreve com e, n, t. Vocês poderiam escrever com a, n, t, e seria um belo jogo de palavras.” LACAN, J., O seminário, livro 17, O avesso da psicanálise, op. cit., p. 46.

20 LACAN, J., O seminário, livro 17, O avesso da psicanálise. Op. cit., pp. 47-48.

21 ———— O seminário, livro 16, De um Outro ao outro. Op. cit., p. 101.

22 Matema do Discurso do Capitalista (em anexo).

23 LACAN, J., O seminário, livro 16, De um Outro ao outro. Op. cit., p. 178.

24 “Quanto mais a procura de vocês envereda pelo lado da verdade, mais vão sustentar o poder dos impossíveis, que são aqueles que enumerei respectivamente da última vez – governar, educar, analisar eventualmente.” Lacan, J. Seminário 17, O avesso da psicanálise. Op.cit., p. 179. “Trata-se de articular uma lógica que, por mais frágil que pareça, (...) é ainda bastante forte para comportar aquilo que é o signo dessa força lógica, a saber, a incompletude. Isto os faz rir. Mas tem uma consequência muito importante, especialmente para os revolucionários – é que nada é tudo.” (idem, p. 193).

25 LACAN, J. “Jornadas Sobre a Experiência do Passe”. In: Documentos para uma escola II – Lacan e o Passe. Op.cit., p. 59.

26 ZIZEK, Slavoj (2011): “Discurso aos Manifestantes de Occupy Wall Street”. Blog da boitempo. Disponível em: http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/10/11/a-tinta-vermelha-discurso-de-slavoj-zizek-aos-manifestantes-do-movimento-occupy-wall-street/. Acessado em 22/02/2012.

27 “O potlach testemunha do recuo do homem com respeito aos bens que pôde fê-lo feito vincular a manutenção e a disciplina, digamos, de seu desejo, dado que é aquilo com o qual ele lida em seu destino, com a destruição reconhecida dos bens, tratando-se de propriedade coletiva ou individual. (…) Tudo se passa como se a colocação da problemática do desejo no primeiro plano atraísse, como seu correlato necessário, a necessidade dessas destruições que chamam de prestígio, uma vez que elas se manifestam como tal, gratuitas”. LACAN, J. O seminário, livro 7, A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988, p. 286.

28 JOBS, Steve ([2005]2008): “Discurso na Universidade de Stanford”. In Blog MacMagazine. Disponível em: http://macmagazine.com.br/2008/12/12/transcricao-completa-do-maravilhoso-discurso-de-steve-jobs-na-universidade-de-stanford-em-2005/. Acessado em 22/02/2012.

29 “(...) o discurso da ciência tem consequências irrespiráveis para o que se chama humanidade. A psicanálise é o pulmão artificial graças ao qual se tenta assumir o que é preciso encontrar de gozo no falar para que a história continue.” LACAN, J. “Déclaration à France-Culture à propos du 28a congrès de psychanalise”. Paris: julho 1973. In: Le Coq Héron, 1974, no. 45-46, p.5.

30 “A relação com a falta é tão inerente à constituição de qualquer lógica que podemos dizer que a história da lógica é a de seus sucessos em mascarar aquilo pelo qual ela se aparenta com um vasto ato falho, se dermos a essa expressão seu sentido positivo. É por isso mesmo que vocês sempre me vêem voltar, por algum trajeto, aos paradoxos da lógica, que se destinam a lhes sugerir as portas de entrada pelas quais se nos impõe (…) ter sucesso nesse ato falho, isto é, não faltar para com a falta”. LACAN, J. O seminário, livro 10, A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 147.